Páginas

domingo, 15 de abril de 2012

Restauração Florestal da Mata Atlântica




O estado atual de devastação das florestas em regiões tropicais, e as grandes áreas degradadas, demonstram a necessidade urgente de intervenções para a reestruturação da biodiversidade e suas funções ecológicas (LAMB; ERSKINE; PARROTTA, 2005). Várias paisagens de florestas tropicais já possuem baixo potencial para manter a biodiversidade, caso seus fragmentos isolados não forem reconectados de modo a renovar a possibilidade de fluxo gênico entre eles (METZGER; DÉCAMPS, 1997). A formação da Mata Atlântica no Brasil, que inclui florestas ombrófilas densas, florestas semidecíduas e matas de galeria, é um dos maiores centros mundiais da biodiversidade tropical, assim como uma das mais ameaçadas pelo desmatamento e degradação (ENGEL; PARROTA, 2001). Atualmente, sua cobertura de florestas nativas é estimada em menos de 10% de sua extensão original (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA; INPE, 1993). Com relação às áreas protegidas, elas cobrem menos de 2% do bioma original, e as unidades de conservação de proteção integral protegem atualmente apenas 21% das florestas remanescentes (TABARELLI et al., 2005). Para os biomas onde o funcionamento ecológico foi comprometido e uma grande parte da biodiversidade nativa tornou-se seriamente ameaçada, como é o caso da Mata Atlântica, é preciso realizar uma restauração ecológica em larga escala (RODRIGUES et al., 2010). Um exemplo desta abordagem é "O Pacto de Restauração da Mata Atlântica", um ambicioso programa que visa recuperar 15 milhões de hectares da Mata Atlântica brasileira até o ano de 2050 (RODRIGUES; BRANCALION; ISERNHAGEN, 2009).A maioria dos estudos de restauração desenvolvidos contempla os modelos de composição de espécies, buscando compreender basicamente a sucessão secundária e as interações bióticas (CAMPOE, 2008), não se atendo aos aspectos de manejo silvicultural.
Conhecimentos básicos sobre a composição da floresta, na estrutura e dinâmica, são cruciais para fornecer diretrizes conceituais para a sua restauração, porém, ainda são limitados para muitas formações da Mata Atlântica (MORELLATO; HADDAD, 2000). Assim como acontece com outros sistemas altamente diversificados, a Mata Atlântica possui uma enorme diversidade funcional (relacionado com a biologia reprodutiva das espécies, herbivoria, competição e a atividade de patógenos) que é extremamente difícil de gerir ou restaurar (REIS; KAGEYAMA, 2003). Rodrigues et al. (2009) discorrem que para alcançar a aplicação em grande escala, visando restabelecer e manter a biodiversidade, a restauração ecológica deve ser apoiada pela pesquisa bem fundamentada sobre a ecologia dos diversos tipos de ecossistemas tropicais degradados, com especial ênfase no seu potencial de auto-recuperação, e suas respostas a intervenções projetadas para catalisar o processo de restauração. Assim, é importante destacar o papel fundamental da restauração ecológica para a conservação da biodiversidade, com o objetivo não só de manter a biodiversidade nativa nos fragmentos florestais remanescentes, como também de retardar a degradação florestal a que eles estão expostos (CHAZDON, 2008). Algumas dessas terras degradadas, localizadas próximas aos remanescentes florestais (fonte de propágulos e animais), podem naturalmente se recuperar e serem rapidamente revertidas para florestas secundárias, se as pressões como o fogo, e o pastoreio de gado forem reduzidos (LAMB, 1998), porém, existem outros locais mais isolados ou severamente degradados os quais exigirão alguma forma de gestão que facilite sua recuperação (LAMB; ERSKINE; PARROTTA, 2005; PARROTTA; TURNBULL; JONES, 1997). Portanto, há a necessidade de desenvolver técnicas de restauração florestal nestas regiões que sejam de baixo custo de implementação e fornecem algum nível de retorno econômico direto e a curto prazo para os agricultores e proprietários rurais (ENGEL; PARROTA, 2001). As plantações florestais podem exercer o papel de catalisadoras da regeneração natural, em que as árvores representam apenas a estrutura florestal, facilitando a colonização das comunidades de epífitas, lianas, arbustos e ervas, o que aumenta a diversidade de nichos, para a conquista da fauna (PARROTTA, 1997).
Um fator importante a ser considerado em áreas de plantios de restauração florestal é o manejo silvicultural adotado, o qual possui o objetivo de eliminar, ou minimizar, os estresses ambientais nutricionais, hídricos ou de competição, que sejam obstáculos ao desenvolvimento das árvores nos ambientes degradados, e também possibilita o efeito catalítico para reabilitação do sistema florestal (ENGEL; PARROTTA, 2003; PARROTTA; TURNBULL; JONES, 1997). Stape et al. (2006) desenvolveram estudos de restauração florestal que não só avaliam fatores como composição florística e espaçamento de plantio, mas também, o fator manejo do povoamento, onde são empregadas práticas silviculturais intensivas, de preparo de solo, fertilização e controle de plantas invasoras, visando reduzir o estresses ambientais, como uma tentativa de auxiliar no estabelecimento e desenvolvimento dos plantios, acelerando os processos ecológicos que levam à restauração de áreas degradadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário